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Metamorfose, pandemia e auditoria interna

Metamorfose, pandemia e auditoria interna
10/06/2020



O sociólogo alemão Ulrich Beck (1944-2015) realizou um estudo sobre as transformações das sociedades, que foi publicado após o seu falecimento com o título “A metamorfose do mundo: novos conceitos para uma nova realidade”, no qual propõe a interessante distinção dos conceitos de mudança e metamorfose no planeta. De forma muito simplificada, o autor descreve que a mudança social ocorre quando alguns acontecimentos na sociedade alteram-se, mas outros permanecem iguais, enquanto a metamorfose social acarreta uma transformação mais radical, na qual as antigas certezas da coletividade desaparecem e algo inteiramente novo surge, tornando o que era impensável ontem virar real e possível hoje, sendo capaz de alterar a maneira como vemos, agimos e pensamos sobre o mundo.

 

Beck, na defesa de sua teoria da sociedade do risco mundial, indica que a percepção de grandes riscos, como catástrofes ambientais, ataques terroristas, guerras e pandemias, passa a pautar a nossa forma de se organizar nesse mundo novo, e que essas modificações radicais no modo de ser e viver vem das inflexões provocadas por esses eventos globais. A pandemia da Covid-19 nos lançou, a todos, pela materialização de um risco mundial, em um experimento social, real e até impensável, que é a gênese de um processo de metamorfose. A velocidade e ferocidade com que fomos conduzidos a mudanças, em todas as áreas, desde o convívio social até as funções profissionais, farão certamente, ao fim e ao cabo desse processo, uma transformação radical em muitos segmentos da sociedade. As atividades de auditoria interna possivelmente serão alteradas de forma definitiva, quer na maneira como agimos e trabalhamos em nossas instituições, quer no modo de alcançarmos a missão de aumentar e proteger o valor organizacional, fornecendo avaliação, assessoria e conhecimento objetivos baseados em riscos.

 

Para reflexão sobre os possíveis impactos na função da Auditoria Interna oriunda desse contexto de pandemia, de metamorfose (usando ainda os conceitos de Beck), me apoio também nas questões trazidas por Mervyn King e Linda de Beer (2018) no interessante livro que tem o sugestivo título “The Auditor: Quo Vadis?” (em português: “O auditor: para onde segues?”). Nessa obra, os autores dizem que a Auditoria está em um ponto crítico e, com apoio na história da carreira e nas suas mudanças ao longo do tempo, indicam que “sem inovação significativa em seu modelo de negócios, estratégias de recrutamento de pessoal e processos de execução de auditoria, a profissão pode não permanecer relevante no século XXI”. Mervyn e Linda destacam que a mudança é uma constante na carreira e que sua velocidade, aliada à característica baixa de maleabilidade (que dificulta, por vezes, a adaptação ágil às dinâmicas da gestão), pode nos conduzir à fossilização, tornando-nos “dinossauros” nesse mundo em metamorfose.

 

A pandemia, e sua curva exponencial, pode trazer efeitos de transformação na mesma velocidade para a Auditoria Interna. Nesse cenário, podemos ganhar inspiração em nossos normativos e utilizar os efeitos colaterais positivos dos males, a pandemia, e esse momento de quarentena para potencializarmos a adaptação e preparação da função ao novo cenário que se desenha para além da nossa moldura atual, continuando firmes na busca de nossa missão junto às organizações.

 

A inspiração normativa central, como foco no alcance da Missão da Auditoria Interna, vem do disposto nos Princípios Fundamentais para a Prática Profissional de Auditoria Interna elaboradas pelo The Institute of Internal Auditors (The IIA), que fazem parte das Orientações Mandatórias do International Professional Practices Framework (IPPF). Destacadamente, a integração de dois princípios nos conduzem a ações mais contundentes de educação e treinamento neste momento: “Demonstrar Competência” e “Zelo Profissional Devido” – tópicos que indicam a educação profissional continuada requerida para manter seus conhecimentos atualizados e a conduta de ser Perspicaz, Proativo e Focado no Futuro, destacando o papel do treinamento específico em questões emergentes. Para que possamos estar prontos a auxiliar a gestão, com a dinâmica que a situação de metamorfose exige, no período de quarentena e no que seguirá a ele (o qual não sabemos ainda como será), é recomendável investir no reforço da capacitação e no estudo com as equipes de trabalho.

 

No intuito de operacionalizar essas ações de educação, podem ser utilizadas estratégias como o destaque de tempo semanal para atividades de estudo do time por meio de cursos e treinamentos on-line. Capacitações disponibilizadas pelo IIA Brasil e outras plataformas em temas relevantes técnicos e de gestão, que incluem desde técnicas de auditoria, passando ainda por assuntos correlatos e mais amplos de gestão (como estruturas para tomada de decisão, economia, contabilidade e até reflexões com apoio de filosofia e sociologia), devem nos ajudar a compreender de forma mais ampla o cenário complexo no qual emergimos. Estratégias de construção do conhecimento com equipes e grupos de estudo podem ser articuladas para pesquisa e compartilhamento de temas emergentes ou relevantes para o momento de negócio da organização em forma de webinar, por exemplo. Participação do time em grupos e redes sociais de atuação do segmento e de outros tipos de negócio também podem ser fontes de aprendizado e capacitação, que propiciam, por meio do entendimento, troca de ideias e materiais advindos de outras realidades, importantes insights para apoiar a gestão e a profissão.

 

O tempo, a forma e a qualidade que podemos dedicar ao estudo neste período pode ser o efeito colateral positivo dos males trazidos pela pandemia. É preciso abertura ao compartilhamento e à ampliação de conhecimento, ajudando a remoldar o horizonte de ação da Auditoria Interna – o que nos possibilitará emergir dessa metamorfose mais fortes no apoio às nossas organizações.  O uso mais intensivo dos recursos de tecnologia da informação e comunicação, das redes de relacionamento social, de metodologias de aprendizado remoto, do aperfeiçoamento da comunicação não presencial, da abertura para o estudo, debate e reflexões sobre temáticas clássicas e novas devem conduzir e alterar a maneira como vemos, agimos e pensamos, produzir novos horizontes e permitir que a Auditoria Interna siga na busca da mesma missão, com uma adaptação mais ágil às dinâmicas da gestão, mantendo, dessa forma, a profissão relevante no século XXI.

 

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