Será Que o “Cão de Guarda” Latiu Alto Demais em Glendale, Arizona?
20/05/2019
A cada ano, no Mês Internacional da Conscientização Sobre a Auditoria Interna, destacam-se inúmeras declarações públicas que promovem a profissão. Normalmente, elas elogiam o papel da auditoria interna em aumentar a confiança pública e promover economia, eficácia e eficiência no governo. Na minha opinião, tais declarações reconhecem uma verdade fundamental: a auditoria interna aumenta a transparência e a prestação de contas no setor público.
É por isso que fico especialmente decepcionado e frustrado quando as entidades que já reconheceram o valor da auditoria interna dão um passo atrás. Tal é o caso de Glendale, Arizona, uma cidade de cerca de 250.000 pessoas na área metropolitana de Phoenix. Os líderes desta cidade votaram recentemente para eliminar o cargo de auditor interno, há muito tempo estabelecido, e substituí-lo por um contratado externo.
Essa ação está sendo promovida como uma forma de fortalecer a prestação de contas, mas temo que isso tenha o efeito oposto. O que mais me preocupa nesse caso é que a terceirização da auditoria interna, da maneira prevista em Glendale, pode enfraquecer a avaliação independente que uma função de auditoria interna oferece. Uma função de auditoria interna independente e com os recursos adequados, pode proativamente evitar problemas ao avaliar os controles com regularidade. Como a função de auditoria interna está mais familiarizada com operações e processos, ela pode responder rapidamente as solicitações e está bem preparada para acompanhar as recomendações e como estão sendo implementadas.
Isso não quer dizer que um contratado externo não possa prestar tal avaliação. Mas manter o nível de serviço, perspectiva e insight oferecido por uma função de auditoria interna estabelecida pode custar significativamente mais em alguns casos.
Eu já escrevi e falei francamente, em muitas ocasiões, sobre as potenciais ações de funcionários públicos, destinadas a minar a independência da auditoria interna e, posteriormente, dificultar a transparência e a prestação de contas. No caso de Glendale, a prefeitura da cidade está alegando que a mudança para um contratado externo permitirá auditorias mais frequentes e mais sofisticadas. Ao mesmo tempo, os recursos alocados para os serviços de auditoria permanecerão os mesmos. Sinto-me altamente cético quanto ao fato de que a mesma quantia gasta em fornecedores externos forneça o mesmo nível de reação e prontidão que ter uma função de auditoria interna dedicada. Para alcançar o mesmo nível de serviço, a cidade terá que gastar mais dinheiro, e isso provavelmente não acontecerá.
Já citei um velho ditado antes, em contexto semelhante, e ainda vale hoje: "o bom trabalho não é barato; o trabalho barato não é bom".
Uma análise do caso Glendale não estaria completa sem observar que o trabalho mais recente do auditor interno da cidade expôs pedidos questionáveis de reembolso relacionados a uma viagem de um funcionário para a Europa, a trabalho em nome da cidade. Isso pode estar alimentando o desejo repentino de eliminar o cargo de auditor interno. Como já observei anteriormente: "todo mundo ama um cão de guarda, até que ele lata!"
Para ficar claro, eu já escrevi anteriormente e ainda acredito que a maioria dos funcionários do governo e dos conselhos e executivos corporativos apreciam uma função de auditoria interna forte e eficaz, e a supervisão que vem com ela. Eles reconhecem que a auditoria interna é vital para o gerenciamento saudável dos riscos e controles internos. E entendem que, para aproveitar ao máximo a função de auditoria interna, ela deve ter bons recursos e ser independente.
O tempo dirá se o experimento de Glendale com um contratado externo de auditoria interna resultará em uma avaliação independente e eficaz. As mudanças adotadas pela cidade também incluem a criação de um comitê de auditoria composto por cidadãos, o que é bom. Também é encorajador o fato de que o contratado externo reportará funcionalmente a esse comitê de auditoria, e não à prefeitura.
Mas nada disso aborda uma questão fundamental: se a função de auditoria interna de Glendale já estava prestando uma avaliação independente e eficaz, o que está realmente conduzindo uma mudança tão radical?
Como sempre, aguardo seus comentários.
Divulgação:
Richard F. Chambers, presidente e CEO do Global Institute of Internal Auditors, escreve artigos
semanais para um blog da InternalAuditor.org sobre assuntos e tendências relevantes para a
profissão de auditoria interna.
Tradução: IIA Brasil
Revisão Técnica da Tradução: Marcos Roberto Pereira Kovacs, CIA, CCSA, CRMA.