Auditoria Interna, riscos da COVID-19 e o ano à frente
20/10/2020
Os leitores do meu blog sabem que, nos últimos anos, tenho enfatizado constantemente a importância de que os auditores internos antecipem os riscos futuros para nossas organizações. Como observei em um artigo de 2018 no blog:
Como profissão, os auditores internos cultivaram um longo e respeitado legado como “prestadores de retrospectiva”. Quase todos nós somos adeptos de analisar os dados do ano anterior e dizer à gestão onde foram cometidos erros no passado. Embora a retrospectiva seja uma parte necessária da auditoria interna, ela por si só é uma de nossas habilidades menos valiosas. Muitas vezes, nossos clientes já estão cientes dos erros do passado.
Com o advento da auditoria operacional e, depois, a introdução da consultoria/assessoria em nosso portifólio de serviços, também nos tornamos prestadores de conhecimentos. O conhecimento é geralmente visto como mais valioso do que uma visão retrospectiva para nossos stakeholders enclausurados, mas também sofre limitações em uma era em que os riscos emergem à velocidade da luz. O conhecimento de hoje pode muito bem ser a retrospectiva de amanhã.
Sempre haverá a necessidade de visão retrospectiva e de conhecimento, mas a previsão é a fonte suprema de valor. Os stakeholders procuram navegar no futuro mais do que revisitar o passado ou permanecer no presente. Chegou a hora de concentrar nossos telescópios à frente. Precisamos nos concentrar nos riscos do amanhã, se quisermos não apenas proteger, mas também valorizar nossas organizações.
Por mais importante que fosse identificar os riscos emergentes há dois anos, antecipar os riscos nunca foi tão importante como hoje. A pandemia da COVID-19 acelerou a velocidade do risco a um nível sem precedentes. Para muitas organizações, as avaliações de riscos realizadas em 2020 tiveram uma vida útil de apenas semanas ou dias. Cada dia traz novos acontecimentos que influenciam diretamente a probabilidade e o impacto potencial de eventos futuros.
Considere algumas das incertezas que as organizações podem enfrentar apenas no último trimestre de 2020:
- Haverá uma segunda onda de infecções da COVID-19 onde nossa organização opera?
- As autoridades e reguladores do governo diminuirão as restrições de quarentena que afetam minha empresa/setor?
- Haverá alguma iniciativa adicional de alívio do governo federal?
- As eleições nos EUA afetarão os mercados de ações?
Por mais que haja incertezas nessa lista, lembre-se de que faltam apenas alguns dias para o último trimestre. Acredito que essas incertezas serão apenas uma gota no oceano, em comparação com a incerteza dos riscos que enfrentaremos em 2021. No entanto, se quisermos ser uma fonte de valor para nossas organizações, devemos pegar nossos telescópios novamente e começar a olhar para o horizonte. Melhor ainda, devemos começar a olhar além do horizonte – para todo o período de 2021 – para identificar os riscos emergentes.
Muitos auditores internos ficam intimidados com a perspectiva de prever riscos futuros/emergentes. Ficamos desconfortáveis, porque não temos as evidências empíricas em que confiamos em muitos de nossos outros trabalhos. No entanto, não se trata de um processo complicado. Como observei no artigo do blog de 2018:
Não há método garantido para identificar os riscos emergentes. Como toda avaliação de riscos, há uma dose de arte somada à ciência. No entanto, se a auditoria interna não estiver olhando na direção certa, terá uma maior probabilidade de deixar passar os riscos emergentes. Mas, assim como as tempestades no hemisfério norte geralmente surgem do ocidente, há direções a partir das quais os possíveis riscos que a empresa enfrenta podem surgir.
Para 2021, elas incluiriam:
- Perspectivas de uma vacina contra a COVID-19, o possível momento em que ela surgirá e como ela poderia impactar sua empresa/mercado.
- Perspectivas de renovação/extensão da quarentena em sua região/mercado, que continuará atrapalhando ou voltará a atrapalhar a continuidade de suas operações comerciais.
- Previsões econômicas, macroeconômicas e do setor.
- Perspectivas de estímulo governamental adicional e quaisquer disposições que beneficiariam sua organização/setor.
- Outras ameaças ou oportunidades disruptivas relacionadas à COVID-19 que o seu setor enfrente.
- Resiliência da(s) cadeia(s) de suprimento da(s) qual(is) sua organização depende.
- Cenário da temporada de gripe e como ela pode agravar outra onda de COVID-19.
- Acontecimentos geopolíticos e o potencial para mais restrições a viagens internacionais.
Independentemente das etapas que você execute para identificar riscos emergentes, você deve se lembrar que a avaliação de riscos é um meio, não um fim. Uma avaliação de riscos pode servir a vários propósitos importantes, mas acredito que seus dois usos mais importantes para a auditoria interna sejam: 1) servir de base para o planejamento de auditoria, incluindo garantir os talentos para lidar com os riscos e 2) compartilhar a perspectiva da auditoria interna sobre riscos emergentes com a gestão e o conselho.
Claro, nossa perspectiva será útil, mas certamente não deve ser a primeira vez que a gestão pensa nesses riscos. Como observei antes:
A identificação de riscos emergentes deve ser um processo colaborativo com a gestão. Afinal, é provável que a gestão já tenha identificado muitos riscos emergentes que ameaçam a organização. Devemos nos posicionar como parceiros, não como concorrentes tentando administrar a empresa, quando se trata de uma visão de risco emergente. Depois de examinarmos cuidadosamente nosso inventário de riscos emergentes, devemos estar preparados para compartilhar nossas perspectivas com o comitê de auditoria. Nossa conversa deve incluir nossos próprios planos para monitorar e reagir a esses riscos como auditores internos da organização.
A pandemia de COVID-19 apresenta riscos e oportunidades para a auditoria interna. Se formos proativos na identificação dos riscos que a pandemia apresenta, teremos a oportunidade de reforçar o valor que entregamos. As melhores funções de auditoria interna do mundo já estão olhando para 2021 e se preparando para lidar com os riscos emergentes que quase certamente estão se aproximando.
Para estarmos prontos para 2021, devemos começar a nos preparar agora.
Adoraria saber suas opiniões sobre isso.
Divulgação:
Richard F. Chambers, presidente e CEO do Global Institute of Internal Auditors, escreve artigos semanais para um blog da InternalAuditor.org sobre assuntos e tendências relevantes para a profissão de auditoria interna.
Este artigo foi reproduzido do InternalAuditor.org com permissão do Instituto de Auditores Internos, Inc. traduzido do inglês para o português.
Tradução IIA Brasil