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O COVID-19 não é um Cisne Negro - é um Cisne Policromático

O COVID-19 não é um Cisne Negro - é um Cisne Policromático
20/04/2020



À primeira vista, a pandemia de coronavírus que vem ameçando as populações em todo o mundo parece se encaixar na expressão de um evento "cisne negro", popularizada pelo livro de Nassim Taleb. Mas as aparências podem enganar.

O termo “cisne negro” descreve um evento de difícil previsão, mas que pode trazer sérias conseqüências. Os europeus desconheciam o cisne negro até chegarem na Austrália e Nova Zelândia, onde cisnes negros são bastante comuns. O termo passou a ser aplicado, com crescente regularidade, ao longo dos anos - algumas vezes de forma adequada e outras nem tanto. Atualmente, há quem venha se referindo ao surto de coronavírus deste ano e à doença de COVID-19 que ele gerou, como um “cisne negro”. No entanto, as pandemias não são tão imprevisíveis tampouco inimagináveis. A história humana está repleta de pandemias, algumas até mais devastadoras que o COVID-19. Nos últimos anos, o ex-presidente dos EUA Obama e o fundador da Microsoft, Bill Gates, falaram, de modo quase preditivo, sobre a ameaça de uma pandemia.

Sendo assim, embora o COVID-19 possa não ser um “verdadeiro cisne negro”, suas consequências são muito maiores do que se poderia imaginar de uma pandemia em pleno século XXI. Eu mesmo, por exemplo, não poderia prever como um único evento poderia afetar tantas facetas dos negócios e da vida, e com um efeito tão profundo na população mundial de 8 bilhões de pessoas. Como CEO, se você tivesse me dito há um ano que teríamos uma pandemia em 2020, eu teria previsto uma interrupção semelhante a outras catástrofes globais, como os ataques de 11 de setembro ou a Grande Recessão de 2007-2009. Claramente, o COVID 19 eclipsou esses eventos, em razão de sua magnitude.

O COVID 19 nos jogou no precipício de uma recessão global e devastou os mercados financeiros. Ele fechou indústrias inteiras e jogou milhões no desemprego. Mudou temporariamente a forma como interagimos como sociedades, criando exércitos de teletrabalhadores e transformando centros urbanos vibrantes em cidades fantasmas virtuais. Ele nos aprisionou na relativa segurança de nossas casas e transformou monitores de computador em nossas janelas para o mundo.

Esse teste multifacetado, em evolução, e insidioso de nossa boa vontade, coragem e paciência não é um cisne negro, cujas penas são da mesma cor. Este cisne está em Technicolor®,ele é Policrotico.

De fato, a pandemia não é apenas uma pausa indesejável e prejudicial em nossas vidas que pode se estender pela maior parte de 2020. Seu impacto, a longo prazo, promete mudar permanentemente a maneira como fazemos negócios e como interagimos.

Uma coisa que a pandemia deixou bem claro é o quão globalmente interconectadas e interdependentes nossas vidas e economias se tornaram. A entrega confiável e pontual de materiais para operar nossos negócios praticamente parou. Fontes de mão-de-obra confiável e acessível foram cortadas. Negócios e indústrias que oferecem e dependem de viagens convenientes e sem restrições, hospitalidade e entretenimento foram encerrados. Ironicamente, a única coisa que prospera, no isolamento, é a estratégia crítica para combater a propagação da doença.

Como auditores internos, não devemos apenas entender como o COVID-19 está afetando nossas vidas pessoais e profissionais; devemos enfrentar o dilúvio esmagador de riscos associados à pandemia e ajudar nossas organizações a entendê-la. Eu vejo isso acontecendo mediante quatro importantes passos:

  • Faça parte da equipe. Devemos deixar temporariamente de lado a relativa segurança de sermos - enquanto terceira linha de defesa - apenas provedores de garantia, e passarmos a prestar apoio da maneira que pudermos. É possível proteger nossa independência e objetividade, e ainda fornecer consultoria e suporte críticos. É fácil usar a independência e a objetividade como desculpas para ficar de fora da briga, mas não é o caminho para nos tornarmos parceiros confiáveis para nossos stakeholders.
  • Seja um parceiro inquisitivo e informado. Os auditores internos, por natureza, buscam informações e as avaliam com um olhar crítico. Essa habilidade é inestimável, pois nossas organizações passam por um tsunami de informações sobre a pandemia e seus impactos. Seja uma fonte de verdade para sua organização, aplicando habilidades de pensamento crítico e ceticismo saudável. Seja esse filtro importante, que oferece avaliações objetivas e bem informadas para ajudar sua organização a elaborar as estratégias adequadas e tomar as medidas certas para navegar pela pandemia.
  • Promova a visão de futuro e incentive o pensamento a longo prazo. Esse pode ser o serviço mais desafiador e valioso que a auditoria interna pode fornecer. No curto prazo, a gerência executiva e o conselho estão se concentrando em enfrentar a tempestade. Eles podem não ter o luxo de dar um passo atrás e avaliar o quadro geral. Com sua perspectiva mais ampla e capacidade de identificar condições e causas, a auditoria interna está posicionada para enxergar além da atual crise.
  • Fale a verdade a quem detém o Poder e Autoridade. Não hesite em falar se vir erros ou suposições incorretas. Lembre-se de que ninguém, nem mesmo os Dirigentes Máximos Executivos de corporações, em finanças, gestão de pessoas, operacionais ou compliance, nenhum deles jamais viu um “cisne Policromático também. Sou CEO há mais de 11 anos, mas acordo todas as manhãs surpreso com o quão sem precedentes são as atuais circunstâncias. Garanto-lhe que não sou o único CEO que se sente assim.

A pandemia é o primeiro teste significativo de como a auditoria interna moldará seu futuro na próxima década. O desempenho que temos agora, e como podemos demonstrar nosso valor para nossas organizações será crucial - não apenas para nossa prosperidade - mas talvez para nossa própria sobrevivência.

Um pensamento final: acredito que a pandemia está puxando a cortina para nos mostrar um vislumbre do futuro. Ela nos mostrou a incrível velocidade dos riscos emergentes; a interconectividade global de negócios, indústria e sociedade; e como reagimos às adversidades como uma comunidade global. Como profissionais em uma atividade que é centrada no risco, devemos colher o máximo de lições possível desse período de teste.

Divulgação:

Richard F. Chambers, presidente e CEO do Global Institute of Internal Auditors, escreve artigos semanais para um blog da InternalAuditor.org sobre assuntos e tendências relevantes para a profissão de auditoria interna.

Este artigo foi reproduzido do InternalAuditor.org com permissão do Instituto de Auditores Internos, Inc. traduzido do inglês para o português.

 

Tradução e revisão técnica Hânya Pereira Rêgo

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