On The Frontlines: Os Perigos da Auditoria Excessiva
09/11/2022
Escrito por David O´Regan em 24 de agosto de 2022
Um risco da "explosão de auditoria" é que a sabedoria intuitiva e o julgamento empírico estão cada vez mais subordinados a formalidades desanimadoras e em forma de checklists.
Os Benefícios da Auditoria
A auditoria serviu à humanidade construindo pontes de confiança entre interesses sociais concorrentes. A auditoria de demonstrações financeiras, por exemplo, fortalece a conduta ordenada do comércio e do governo, ao promover a prestação de contas. No mundo todo, facilita o bom funcionamento dos mercados e reduz as diferenças entre governos e cidadãos. Enquanto isso, os auditores internos prestam avaliação sobre a administração eficaz e eficiente de nossas instituições. Dessas formas, a auditoria protege o tecido social, ao proporcionar confiança entre os interesses dos stakeholders, tornando possível a vida civilizada.
Se você acha exageradas minhas afirmações sobre a missão civilizadora da auditoria, considere um mundo imaginário em que não há auditoria. Um mundo em que as organizações emitem demonstrações financeiras fantasiosas ou enganosas, sem supervisão. Um mundo em que grandes organizações escapam do escrutínio interno. O resultado seria o caos.
No entanto, tendo reconhecido o valor da auditoria, podemos ponderar sobre os perigos do excesso de algo bom.
A “Explosão” de Auditoria
O professor Michael Power, da London School of Economics, nos alertou na década de 1990 sobre os riscos de uma "explosão de auditoria". Na época, achei suas advertências convincentes, mas suas preocupações seguem sem solução um quarto de século depois. Atividades semelhantes a auditorias seguem se proliferando de forma implacável. Agora, temos auditorias de qualidade, auditorias ambientais, auditorias de propriedade intelectual, auditorias médicas, auditorias de royalties, auditorias de ensino, auditorias de desinformação e muitas outras. Um "muro" de atividades de verificação cercou nossa vida cívica.
Os Perigos da Vigilância Excessiva
Embora as avaliações dos auditores continuem contribuindo para a condução ordenada dos assuntos humanos, é preocupante a velocidade implacável com que atividades semelhantes à auditoria se insinuam nos nervos de nossas instituições. O custo de tempo, de energia e de oportunidade para manter camadas onerosas de sistemas de avaliação frequentemente sobrepostos apontam para uma profunda prostração. Eles me parecem sintomas de uma perda global de fé em nossas instituições e em nossas lideranças políticas e empresariais.
Podemos ficar preocupados não apenas com a proliferação das atividades de verificação, mas também com sua natureza fortemente processual. A avaliação no estilo checklist tem a vantagem de eliminar julgamentos idiossincráticos e, assim, aumentar a confiabilidade. Mas o excesso de “marcar caixinhas” pode ser entendido como uma patologia social. Suspeito que o crescente "muro" de avaliações no estilo checklist transmite sinais superficiais de ordem que mal mascaram nossa crescente desordem social, política e econômica. E a criação de cortinas de fumaça de vigilância, por meio de rotinas estereotipadas e linguagem clichê, obscurece tendências de decadência institucional.
No entanto, seria difícil jogar a culpa pela incessante "explosão de auditoria" apenas nas mãos dos auditores. Nossas insufladas indústrias de vigilância são provavelmente um sinal (e não a causa) do declínio da confiança social. Uma multiplicidade de mecanismos de avaliação serve como meio coletivo de aliviar a ansiedade, conforme nossas instituições vacilam e falham cada vez mais.
O Que Pode Ser Feito?
Analisados individualmente, a maioria dos elementos do "muro" de vigilância tem fundamentos legítimos. O auditor externo justifica corretamente suas auditorias por seus benefícios econômicos e sociais. Os auditores internos também defendem sua atividade de auditoria, com base sólida no fortalecimento da governança institucional. E outros prestadores de avaliação respondem da mesma forma quanto às suas categorias de atividade de auditoria. O problema não está no nível do tijolo individual no muro – está no nível agregado do muro em si. E me parece improvável que uma reversão da "explosão de auditoria" surja de baixo para cima, devido aos desafios de coordenação entre os prestadores de categorias concorrentes de avaliação. Uma solução política é a única saída realista para a confusão atual, em termos de regulamentação (ou desregulamentação, em alguns casos) de nossas indústrias de verificação.
Enquanto isso, como a profissão de auditoria interna deve reagir à "explosão de auditoria"? Existe o perigo de que a auditoria interna seja despercebida em meio a uma ampla prostração pública nas insufladas indústrias de vigilância e vista apenas como mais um tijolo no muro da verificação?
Acho que os auditores internos estão bem-posicionados para enfrentar a atual onda de verificação excessiva, com sua utilidade social não apenas preservada, mas aprimorada. A auditoria interna é, talvez, a forma de avaliação moderna na qual o exercício da sabedoria prática domina mais claramente sobre o simples “marcar caixinhas” em um checklist. A auditoria interna requer a aplicação do julgamento a uma gama surpreendentemente ampla de atividades e, na melhor das hipóteses, envolve o tipo de sabedoria empírica que os antigos filósofos gregos chamavam de phrónēsis.
Considerações Finais
Aos olhos de muitos, há algo miserável na extensão e na natureza das atividades modernas de verificação. As práticas bizantinas de vigilância subordinaram cada vez mais o julgamento a formalidades desanimadoras e em forma de checklists. Por outro lado, a auditoria interna baseia-se na sabedoria intuitiva e no julgamento empírico. Enquanto aguardam qualquer possível reversão da "explosão de auditoria", os auditores internos podem se diferenciar com base em uma filosofia de auditoria construtiva, que promova a criatividade em vez do comodismo e o otimismo em vez da suspeita.
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Este documento foi traduzido por INSTITUTO DOS AUDITORES INTERNOS DO BRASIL em 21 DE SETEMBRO DE 2022