Auditar, antes de tudo, a si mesmo.
13/08/2025
Auditar, antes de tudo, a si mesmo.
Cada vez mais reflito sobre um contexto que me parece ambíguo. Quando se fala em Auditoria Interna, o primeiro contexto que percebo vir à mente da maioria das pessoas está correlacionado ao mundo corporativo — governança, ética, eficiência, entre outros.
Por outro lado, as empresas e os clientes de auditoria, muitas vezes nos veem, auditores, como profissionais estigmatizados na persona de inabalável precisão, postura crítica, cética, conhecimento e estabilidade, ou seja, todas as características que atualmente traduzimos em sete princípios essenciais. Grande e honrosa responsabilidade...
Nesses últimos 13 incríveis anos, imerso nesse universo, passei a perceber cada vez mais que a auditoria não se limita a processos de negócios ou tecnologias, normas, controles, metodologias. É verdade que se aprende muito sobre tudo isso e além, mas na verdade, o que ser auditor mais me ensina e me faz pensar constantemente é a capacidade de aprender e conhecer sobre o ser humano e a nós mesmos.
Lembro de uma aula de sociologia, anos atrás, quando a professora compartilhou uma frase de Oscar Wilde que nunca saiu da memória:
"É fácil julgar os erros alheios, mas reconhecer os próprios exige verdadeira coragem.".
As palavras “Auditoria Interna” me revelam um segundo sentido, que excede o corporativo. E se nós, auditores, estivéssemos sujeitos a nossa própria análise, se fôssemos auditados? Ser auditor é também exercer autoconhecimento, ou seja, nos auditar internamente, o que não implica, nesse caso, em perda de independência.
Enquanto profissional, o auditor avalia processos, decisões e comportamentos pelos quais ele não é ou foi responsável e é possível, pelo menos na maior parte do tempo, perceber que impacto as recomendações e conclusões dos trabalhos trarão para as organizações e as pessoas envolvidas. Mas, e enquanto indivíduo? Responsável por seus comportamentos e decisões. Como eles impactam a vida das pessoas ao redor... Será que nossas atitudes são justas, imparciais e precisas?
As empresas bem-sucedidas revisam periodicamente seus processos para garantir eficiência e evolução sustentável. E nós? Me pergunto se nos lembramos com frequência de realizar uma autoavaliação. É preciso reconhecer que não me recordo tanto quanto gostaria e considero importante.
É claro que muito se fala em autoconhecimento, mas acredito que o auditor dispõe de ferramentas, até mesmo sistemáticas, além do seu senso crítico inato, que o colocam em posição de vantagem. Curiosamente, vejo as etapas clássicas de uma auditoria corporativa como referência para um processo de autoanálise:
Definição do Escopo - Sobre qual ou quais das nossas nuances e faces iremos nos avaliar. Gestão do tempo, produtividade, consumo digital, estudos, saúde física e emocional. São muitos. Embora indivíduo, o ser humano é plural.
Coleta de Evidências - Nos permite reconhecer padrões de comportamento, emoções, reações etc.
Avaliação dos Controles Internos - Pode ajudar a entender que mecanismos adotamos para garantir equilíbrio das emoções, reações, disciplina nas rotinas e hábitos etc.
Identificação de Riscos - Identificar nossas vulnerabilidades, pontos de desenvolvimento e, por exemplo, vieses inconsistentes que prejudicam análises claras e justas do comportamento humano, seja ele de familiares, amigos, colegas de trabalho, líderes e liderados, além, é claro, dos auditados.
Conclusões e Plano de Ação
É preciso reconhecer todos os pontos positivos, conquistas, superações, realizações, mas, tão importante quanto, é necessário compreender e aceitar genuinamente as faltas, limitações e erros. Afinal, errar é humano, e isso vale para todos, não só para nós.
Enquanto Oscar Wilde fala sobre coragem, Ernest Hemingway, ainda que não contemporâneo, me parece ter escrito o complemento e desfecho perfeitos:
"Não há nada de nobre em ser superior ao seu semelhante; a verdadeira nobreza é ser superior ao seu antigo eu."
Auditar a si mesmo e recordar das responsabilidades que temos como indivíduo, em âmbito profissional ou não, e dos impactos que nossas ações podem causar em quem está a nossa volta, reconhecer erros, aprender com eles e evoluir continuamente, no fim das contas, é o processo mais difícil, complexo, valioso e extraordinário de todos. Auditemo-nos.
Thiago Pires Vilarinho