Guerra na Europa: Por Que os Riscos Geopolíticos Devem Estar Sempre no Radar da Auditoria Interna
20/07/2022
Publicado em 27 de fevereiro por Richard Chambers
Após semanas de relatórios de inteligência sinistros, o mundo mais uma vez se vê às voltas com um evento geopolítico desestabilizador – desta vez, no próprio continente europeu. Quando as forças russas entraram na Ucrânia em 24 de fevereiro, não foi totalmente inesperado. No entanto, quando as avaliações de riscos de 2022 estavam sendo compiladas nos últimos meses, esse era um risco que poucos previam. O Global Risk Report de 2022 do Fórum Econômico Mundial, publicado há pouco mais de seis semanas, reconheceu o aumento das tensões, mas não incluiu conflitos armados entre estados-nação ou confronto geoeconômico entre seus 10 principais riscos globais nos próximos dois anos. E o confronto geoeconômico mal entrou na lista dos 10 principais para a próxima década.
A invasão da Rússia já causou um impacto devastador no povo da Ucrânia e abalou os mercados financeiros globais, ameaçando alimentar um ambiente inflacionário já preocupante nos Estados Unidos e em outras economias desenvolvidas em todo o mundo. As empresas com presença global estão se esforçando para avaliar o impacto comercial dos acontecimentos na Europa – principalmente, em suas cadeias de suprimentos e receita. Mesmo empresas cujos modelos de negócios não se estendem além das fronteiras de seu país estão reconhecendo que o conflito europeu pode afetar suas fortunas.
Embora os eventos das últimas duas semanas possam ter nos pego de surpresa, a questão importante é: deveria ter sido uma surpresa? Pela minha experiência, riscos geopolíticos raramente recebem o nível de atenção que merecem, até que seja tarde demais. Um artigo recente da Global Risk Insights (GRI) destacou vários riscos geopolíticos que o mundo enfrenta no próximo ano. Como a GRI observou:
“Os riscos geopolíticos dizem respeito às relações entre as nações – nos níveis político, econômico, militar e cultural/ideológico. Os riscos ocorrem, convencionalmente, quando o status quo é ameaçado. Os riscos não são apenas um grande problema para os estados, no entanto. Também são importantes para entidades não estatais, especialmente no setor privado, pois os acontecimentos afetam as decisões corporativas e de investimento, cadeias de suprimentos, gastos do consumidor, estratégias de cliente e quanto custa uma cerveja naquele feriado para o qual você vinha economizando”.
Há muito tempo, defendo que os riscos geopolíticos são um elemento importante na carteira de riscos de muitas empresas, e que devem ser monitorados como parte de uma abordagem eficaz de gerenciamento de riscos. Em um artigo de 2007 para a PwC, alertei:
“Quando as empresas operam no exterior em ambientes políticos desconhecidos, muitas vezes são expostas a novos tipos de riscos e complexidades que podem ameaçar o desempenho dos negócios, bem como mascarar novas oportunidades.”
Tal como acontece com muitos eventos inesperados, as avaliações de riscos geopolíticos muitas vezes não acontecem, até que um evento como a invasão ucraniana já tenha ocorrido. No entanto, com uma abordagem proativa para avaliar os riscos geopolíticos, uma empresa pode:
- Proteger investimentos globais novos e existentes, e melhorar o desempenho do negócio.
- Tomar decisões melhores e mais tempestivas sobre operações internacionais.
- Antecipar as consequências dos riscos de negócios por mudanças ou instabilidades geopolíticas.
- Identificar oportunidades e riscos decorrentes de mudanças geopolíticas.
- Tomar medidas para mitigar riscos e se proteger contra surpresas indesejadas.
- Melhorar as mensurações, usando a abordagem ajustada ao risco para avaliação do desempenho internacional.
- Sair de mercados instáveis.
Um artigo recente da Forbes apresentou um forte argumento em favor de avaliar e monitorar os riscos geopolíticos antes que seja tarde demais:
“Apesar do foco considerável na pandemia, escassez de talentos e eventos climáticos, os líderes focados no futuro entendem que os riscos geopolíticos crescentes e interconectados da atualidade também abrangem questões mais amplas, incluindo guerra, terrorismo e ciberameaças. Por exemplo, as cadeias de suprimentos podem ser interrompidas por disputas entre países, especialmente quando se trata de matérias-primas e perecíveis, componentes de tecnologia (por exemplo, microchips) ou energia (por exemplo, petróleo, gás natural, eletricidade). Eles também sabem que ciberataques e instabilidade geopolítica estão ligados, com danos potenciais significativos a ativos digitais e financeiros, cadeia de suprimentos e reputação.”
Então, por onde começam os gerentes de riscos, auditores internos e outros ao avaliar os riscos geopolíticos? Ao longo dos anos, compartilhei várias sugestões para as empresas gerenciarem com eficácia os riscos geopolíticos, incluindo:
- Integrar o gerenciamento de riscos geopolíticos em um processo sistemático incorporado aos outros processos de negócios da empresa.
- Aplicar os princípios de gerenciamento de riscos corporativos (ERM) ao gerenciamento de riscos geopolíticos.
- Ter uma visão de portfólio de riscos, para entender melhor as consequências e interdependências entre riscos geopolíticos e outras considerações de riscos. Embora os riscos geopolíticos sejam comumente vistos como um fator de risco externo, podem ter um impacto significativo nos fatores de risco internos.
- Obter inteligência geopolítica relevante para desafios e oportunidades de longo prazo.
- Conduzir uma avaliação básica dos riscos geopolíticos que afetam as operações de negócios.
- Garantir que avaliações atualizadas e precisas dos riscos geopolíticos sejam rotineiramente integradas ao desenvolvimento de negócios e à tomada de decisões operacionais em toda a empresa.
- Monitorar os fatores dos riscos geopolíticos e de outros principais riscos de forma contínua, usando as informações obtidas para tomar decisões de investimento mais informadas e colocar em perspectiva os cenários de risco geopolítico em mudança.
- Entender as possíveis consequências comerciais dos riscos geopolíticos.
A consultoria global McKinsey & Company oferece uma “abordagem em cinco frentes para gerenciar riscos geopolíticos”:
1. Comece com o conselho: os conselhos devem, regularmente, reservar tempo para revisar estratégias de análise e resposta para riscos geopolíticos relevantes.
2. Use uma lente trifocal para avaliar os riscos potenciais:
1. Ações de curto prazo. Por exemplo, “estabelecer uma unidade de resposta a crises, para liderar a identificação de riscos potenciais” e formular estratégias de mitigação propostas.
2. Ações de médio prazo. Informe regularmente o conselho e a alta administração da empresa sobre os riscos geopolíticos relevantes.
3. Ações de longo prazo. Por exemplo, realize exercícios para avaliar possíveis respostas a cenários alternativos.
3. Pense criticamente sobre a narrativa corporativa. Reconheça que a narrativa da empresa “pode criar conflitos com stakeholders externos ou internos” e considere quais poderiam ser as possíveis soluções.
4. Implante frameworks e diretrizes de risco atualizados. Se sua empresa opera em mercados onde a instabilidade política é alta, desenvolva avaliações de riscos específicas do mercado, “que combinem estratégia corporativa e gerenciamento de riscos”.
5. Proteja os corações e mentes dos stakeholders. Como observa McKinsey:
“A geopolítica é pessoal. É provável que uma grande organização tenha stakeholders com diferentes pontos de referência culturais e opiniões sobre questões como direitos humanos e privacidade. E as diferenças podem se transformar em discordâncias sobre risco e estratégia. As pessoas podem se preocupar com o fato de uma empresa manter padrões diferentes em diferentes regiões. Em um mundo em que os sentimentos nacionalistas estão em ascensão, em que nenhum país domina e as regulamentações e normas estão se fragmentando, tais situações tendem a se acelerar.”
Reconheço que grande parte deste artigo foi direcionada aos riscos geopolíticos na perspectiva de uma empresa com atuação global. No entanto, como observei anteriormente, um evento geopolítico como a invasão russa à Ucrânia tem um efeito cascata, que cria ou exacerba riscos em todo o portfólio, para organizações em todos os setores e indústrias. Para aqueles cujas organizações não são globais, ainda recomendo que, como parte de sua avaliação/monitoramento contínuo de riscos, examinem de perto como os eventos na Europa podem afetar sua organização, como aumento dos custos de combustível, aumento das ameaças à cibersegurança e pressões inflacionárias macroeconômicas ainda mais agressivas.
© 2022 Richard F Chambers and Associates, LLC. Usado com permissão.
Autor Richard F. Chambers, texto publicado em 7 de fevereiro de 2022, no site oficial de Richard Chambers.