Inteligência Artificial traz oportunidades aos auditores internos
28/02/2018
Uma mescla de hardware e software com a pretensão de agir como um cérebro humano. A chamada Inteligência Artificial (IA) tem conquistado cada vez mais espaço em organizações corporativas em todo o mundo, gerando benefícios significativos, mas, também, enormes desafios. O alerta de atenção sobre essa polêmica ferramenta passou a ser sinalizado pelo The Institute of Internal Auditors (The IIA) - o maior organismo de auditoria no mundo - que decidiu produzir uma cartilha didática sobre o papel desses profissionais diante da Inteligência Artificial.
O documento foi traduzido pelo IIA Brasil - Instituto dos Auditores Internos do Brasil - com a autorização para divulgar a seus associados. O objetivo central é esclarecer quais as posturas mais íntegras e efetivas que profissionais devem tomar, a fim de lidar com um sistema concebido para encontrar probabilidades, mas que, se desenhado de maneira equivocada, pode causar injustiças aos colaboradores e até danos significativos à corporação.
A cartilha chamada "Tone at the top" - propõe entender o que define a inteligência artificial, abordando sobre sua construção, aplicação, gestão e controle. De acordo com o diretor do IIA Brasil, Fábio Pimpão, as premissas apresentadas pelo instituto global confirmam que essa tecnologia será um divisor de águas crucial na carreira do auditor interno. "É um alerta de que temos que olhar para o futuro. As corporações precisam investir em auditoria, dando-lhes autonomia para que elas façam uma completa imersão de avaliação da IA implantada. Por outro lado, se o auditor não estiver preparado para esses audaciosos desafios, com postura proativa e vasto conhecimento, ele dificilmente encontrará portas abertas nesse novo mundo corporativo que se desenha", prevê.
JC Contabilidade - Quais os principais e mais novos pontos trazidos pela cartilha?
Fábio Pimpão - Ela traz informações sobre a necessidade do auditor estar atualizado sobre as mudanças que a carreira enfrenta nos últimos anos, de ter uma postura proativa e não reativa como no passado. A intenção é alertar e preparar o auditor para que ele haja de forma preventiva e que esteja envolvido em todo o processo de gestão desses sistemas de inteligências artificiais. Ele precisa agir de forma preventiva para adicionar valor à alta administração da empresa em que atua.
Contabilidade - Como a inteligência artificial pode auxiliar o trabalho dos auditores?
Pimpão - Com uma Inteligência artificial robusta, as áreas de auditoria interna conseguem gerar resultados mais rápidos e assertivos. Hoje, temos uma infinidade de dados para serem analisados e o desafio só aumenta. Se você, randomicamente, precisa analisar uma determinada fatura, dificilmente conseguirá identificar as raízes do problema. Estamos falando de bases de dados, que passam em algumas empresas, facilmente, por bilhão de registros. Achar uma nota fiscal com problema, muitas vezes é como tentar encontrar uma agulha no palheiro. A inteligência artificial nunca falará que ali tem um problema concreto, mas por meio de mecanismos e algoritmos, ela mostrará que algo parece estar errado, despertará o alerta para que tal processo ou documento seja verificado com mais detalhes. É filtro de anomalias, capaz de contribuir para identificar a raiz central do problema.
Contabilidade - O uso dessas tecnologias pelas corporações pode acabar, por outro lado, aumentando o volume de informações a serem analisadas pelos auditores?
Pimpão - Sim, com certeza. Como estamos falando sobre um volume cada vez mais agressivo de informações a serem verificadas, se não houver as ferramentas adequadas, será impossível de identificar o problema. É por isso que é preciso fazer com que o sistema e a inteligência artificial trabalhem para você e não o contrário. A varredura será mais ampla, mas se tivermos auditores preparados e sistemas robustos os ganhos qualitativos serão reais.
Contabilidade - O documento elaborado pelo The IIA aponta as posturas mais íntegras e efetivas que profissionais devem tomar, a fim de lidar com um sistema concebido para encontrar probabilidades. Quais são as principais?
Pimpão - O primeiro passo é termos o apoio da alta administração. Eles precisam comprar a ideia de implantar os sistemas que são caros e complexos para que fique claro como o processo irá funcionar e sobre a autonomia dos auditores diante desse novo quadro. Tendo esse apoio irrestrito, vem a parte de implantação que envolve definir como a base de dados será conectada com cada área rastreada, periodicidade de análises, quem irá receber as informações, quais serão os tempos de respostas entre outros passos. Obviamente, isso tem um tempo de maturação, é processo complexo, realmente de tentativa e erro, que leva tempo e que muitas vezes dará a impressão, em alguns casos, de não fazer sentido. Mas é um diamante que o auditor vai burilando até ficar perfeito e que se tenha uma plataforma ideal. O último passo é a gestão e controle. Certificar-se constantemente da eficácia dada tecnologia.
Contabilidade - Há um certo temor de que as máquinas substituam o serviço prestado pelo profissional de auditoria?
Pimpão - De fato, existe esse temor. Há muitas tarefas do auditor que são repetitivas, como, por exemplo, a de analisar documentos, processar dados em planilhas de Excel. Quanto mais automatizado esses processos, menos auditores serão exigidos. Por isso, é preciso que os profissionais estejam capacitados e preparados para apresentarem diferenciais e qualidades indispensáveis. A análise e julgamento do auditor nunca serão substituídas. A inteligência artificial fará parte do operacional, mas os auditores especialistas sempre serão os que farão as conclusões finais, que produzirão relatórios e isso nunca será substituído.
Contabilidade - As organizações corporativas vêm investindo mais nessa tecnologia? Em que setores, principalmente?
Pimpão - Sim, os investimentos estão cada vez mais agressivos. Mas é muito difícil ver companhias que estão em nível avançado. Apenas algo entre 15% e 20% têm caminhado com resultados práticos, mas planejamentos e programas de futuras implantações são realidades do mundo corporativo. As pioneiras estão principalmente no setor financeiro, como bancos e seguradoras. São setores que trabalham com enormes volumes de informação e que estão muito suscetíveis a fraudes e necessitam correr mais.
Contabilidade - Como o IIA Brasil indica que os profissionais se preparem para esse novo momento?
Pimpão - Acredito que isso ocorra no médio prazo. Essa curva de 15% ou 20% de empresas que estão investindo com mais intensidade começará a inverter. Temos um cenário que é a evolução da espécie, com os fortes sobrevivendo, nesse caso, os mais preparados que buscam capacitação e que atuam de forma proativa. Teremos que ter auditores mais especializados e nesse sentido o IIA Brasil tem auxiliado no processo de oferecer novos treinamentos, cursos e certificações que já apontam esses novos tempos adicionar valor para a companhia em que atua é fundamental. O grande desafio é levar a notícia ruim antes que ela aconteça. É possível fazer isso? Sim, e a inteligência artificial auxiliará nessa missão.
Notícia publicada no site do Jornal do Comércio - RS