Os Auditores Internos devem traçar a linha que separa ceticismo de suspeita
11/05/2022
Por Richard Chambers em 20 de fevereiro de 2022
Sempre gostei de trabalhar com novos auditores internos, em parte porque costumam ver o mundo em preto e branco. “Devemos fazer uma auditoria?” “Devemos emitir uma descoberta?” “Estou mantendo um grau saudável de ceticismo profissional?” Para muitos novos auditores internos, cada uma dessas perguntas aponta infalivelmente para uma única resposta de “sim” ou “não”.
Com a experiência, os horizontes dos auditores internos se expandem e eles começam a ver as repercussões de nossas ações. A questão não é apenas se devemos realizar uma auditoria, mas se há risco suficiente para justificar uma, qual o nível de extensão justificado e com que rapidez ela é necessária. Da mesma forma, a questão não é meramente reportar uma descoberta, mas quão significativa é a descoberta e quão forte é a expressão da condição, causa e efeito.
A experiência é valiosa para traçar devidamente a linha entre ter o ceticismo profissional adequado e abrigar suspeitas injustificadas. Questões relacionadas ao ceticismo podem ser emocionalmente carregadas, porque estão no cerne de como nos vemos como auditores. O ceticismo profissional significa que não damos nada por garantido — que avaliamos continuamente as evidências de auditoria e outras informações, e que questionamos o que vemos e ouvimos. Temos orgulho de nunca perder uma pista ou sinal de alerta, e de estar alerta às mensagens ocultas que algum outro auditor interno pode deixar passar. Todos sabemos que, sem ceticismo profissional, podemos fracassar como auditores.
Então, por que os auditores não deveriam ser obsessivamente céticos? O outro lado é que isso pode prejudicar a eficácia da auditoria. Tomemos, por exemplo, o caso do auditor excessivamente suspeito que já trabalhou para mim. Ele sempre presumia que novos clientes eram “culpados de alguma coisa” e que seu trabalho era denunciar. Eu constantemente o lembrava da citação do autor irlandês Ian Gibson: “uma mente suspeita encontrará veneno em todos os lugares que olhar”.
Sem surpresa, a relação de trabalho do meu colega com a gestão, assim como comigo, se deteriorou. Os gerentes eram pouco acessíveis durante as avaliações de riscos e o trabalho de auditoria. A natureza excessivamente desconfiada do auditor acabou levando a falhas de comunicação e resultados fracos de auditoria.
Há uma linha tênue entre manter um grau saudável de ceticismo profissional e ter uma atitude excessivamente desconfiada. A forma como decidimos traçar essa linha diz muito sobre nós – como auditores e como indivíduos.
Para muitos auditores internos, nossos objetivos escritos podem incluir iniciativas de parceria com a gestão ou outras práticas de construção de relacionamento. Infelizmente, manter o ceticismo profissional significa que nunca podemos fechar os olhos para os próprios líderes que seriam nossos parceiros nessas iniciativas. Por sua vez, a gestão pode se tornar menos propensa a pensar nos auditores internos como conselheiros confiáveis. É da natureza humana confidenciar e confiar em pessoas que confidenciam e confiam em nós – mas também desconfiar daqueles cujo julgamento (notavelmente pobre) os faz desconfiar de nós. É de se admirar, então, que adotar uma linha dura em relação ao ceticismo profissional possa potencialmente prejudicar valiosas relações de trabalho?
Ter controle sobre um nível apropriado de ceticismo profissional é fundamental para o sucesso da auditoria interna a longo prazo, mas avaliar nosso próprio ceticismo profissional pode ser desanimadoramente subjetivo. Cada caso é um caso. Alguns auditores confiam mais na construção de relacionamentos; outros estão mais inclinados a “desenterrar a verdade” dos fatos. Cada situação é única, e o truque não é meramente decidir quanto ceticismo é suficiente em geral, mas traçar a linha tão claramente que exibamos o grau certo de ceticismo profissional em qualquer situação.
Ah, se pudéssemos usar um sistema de classificação padronizado para avaliar nosso nível de ceticismo! Infelizmente, não é provável que haja uma escala de classificação precisa e flexível no futuro próximo. Imagine um checklist com declarações como: “O entrevistado parecia nervoso e suava profusamente. Subtraia um ponto de ceticismo.” Ou “O tamanho da amostra foi estatisticamente significativo. Some três pontos de ceticismo.”
Para mim, o segredo é simplesmente abordar cada situação com a mente aberta e comunicar de uma forma que demonstre a nossa confiança subjacente na gestão. Sempre precisaremos fazer perguntas difíceis, mas também precisamos usar o tato para decidir como e quando fazer essas perguntas.
O ex-presidente dos EUA Ronald Reagan disse uma vez: “confie, mas verifique”. Na época, Reagan estava discutindo relacionamentos contínuos com um adversário dos EUA. Para os auditores, “confiar, mas verificar” devem ser palavras a adotar como lema de vida. Precisamos demonstrar confiança em nossos colegas de trabalho e precisamos verificar se podemos continuar depositando essa confiança.
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Autor Richard F. Chambers, texto publicado em 20 de fevereiro de 2022, no site oficial do Richard Chambers.