Voltar para o local de trabalho será arriscado: arregace as mangas, Auditoria Interna
01/06/2020
Após semanas de incerteza e ansiedade em relação à pandemia do COVID-19, começam a aparecer sinais esporádicos de normalidade. Um número crescente de jurisdições está facilitando ou suspendendo as diretrizes de permanência em casa, e as organizações estão voltando seu foco para as estratégias de retorno ao local de trabalho. Multidões de todos os níveis da economia, de consumidores a trabalhadores da linha de frente e chefes de indústria, estão ansiosas por voltar a ambientes que antes eram familiares e a atividades comerciais rotineiras.
Mas esses sinais de normalidade são apenas miragens. Certamente, não sou o primeiro a notar que os negócios provavelmente nunca voltarão ao que eram antes do COVID-19. Em menos de seis meses, a pandemia matou quase 300.000 pessoas em todo o mundo, causou estragos nas economias, elevou o desemprego a níveis históricos e reescreveu as regras para o local de trabalho.
O que está claro é que os impactos e riscos diretos e indiretos criados por esse flagelo repercutirão bem ao longo desta nova década. Como auditores internos, nosso entendimento sobre riscos e gerenciamento de riscos servirá bem às nossas organizações. Em especial, nossa capacidade de reconhecer riscos novos e emergentes nos coloca em uma posição ideal para oferecer grande valor conforme ondas e ondas de perigos inesperados atingem nossas organizações.
O desafio mais recente é ter que lidar com os riscos associados ao retorno aos nossos locais de trabalho normais. Os riscos são muitos, incluindo equilibrar a saúde e a segurança dos funcionários com questões de privacidade, ajustar as operações para minimizar o risco de surtos, reavaliar as necessidades imobiliárias a curto e longo prazo, treinar a gestão para lidar de forma justa com as necessidades e conflitos dos funcionários quanto à pandemia, garantir que novos processos e procedimentos sejam bem projetados e funcionem conforme o esperado, e mais. Em suma, as questões de um plano de retorno ao local de trabalho abrangem um portfólio completo de riscos, incluindo financeiros, operacionais, de conformidade, jurídicos, de saúde e segurança.
Os auditores internos devem estar preparados para prestar avaliações e conselhos informados sobre os planos de retorno ao local de trabalho, e os recursos para se informar são abundantes. Governos ao redor do mundo estão fornecendo orientações. Por exemplo, a European Agency for Safety and Health at Work da União Europeia oferece uma variedade de recursos em seu site COVID-19: Resources for the Workplace. Nos EUA, a Occupational Safety and Health Administration (OSHA) também fornece orientações para a preparação dos locais de trabalho.
Além disso, os Centers for Disease Control and Prevention dos EUA oferecem informações importantes sobre estratégias de limpeza e desinfecção, distanciamento social e retorno ao local de trabalho. O World Economic Forum publicou os Workforce Principles for the COVID-19 Pandemic em março, que ofereceram uma perspectiva abrangente sobre as consequências sociais e de força de trabalho da pandemia. O White Paper inclui uma discussão sobre como garantir reformulações responsáveis no local de trabalho.
No mínimo, as organizações devem realizar uma avaliação de riscos focada no COVID-19 em três áreas principais: impedir a disseminação do COVID-19, criar controles apropriados no local de trabalho e estabelecer como identificar e isolar os funcionários que possam ter a doença. A avaliação de riscos também deve considerar possíveis vulnerabilidades legais associadas ao tratamento dos funcionários, incluindo possíveis alegações de discriminação, violações de privacidade, retaliação e denúncias.
Como sempre, não é nosso trabalho criar controles, formular políticas ou impor conformidade quanto aos planos de retorno ao local de trabalho. Em vez disso, devemos oferecer nossas perspectivas diretamente à gestão, aos profissionais de recursos humanos ou especialistas jurídicos da organização. Podemos atuar como parte de forças-tarefa que ajudem a formular os planos de retorno ao local de trabalho, mas nosso foco deve estar na mitigação de riscos. As principais perguntas que devemos propor e responder incluem:
- A gestão identificou e avaliou adequadamente os riscos relacionados ao retorno ao local de trabalho?
- As políticas e controles propostos para o retorno ao local de trabalho abordam os principais riscos?
- As políticas/controles foram implantados com eficácia (incluindo a comunicação)?
- O programa geral está funcionando conforme o esperado ou seria válido fazer melhorias?
Qualquer discussão sobre os riscos de retorno ao local de trabalho não estaria completa sem o reconhecimento dos riscos associados à forma como vieses psicológicos podem influenciar o julgamento e as ações. Tais preconceitos podem afetar a eficácia das regras de saúde e segurança no local de trabalho.
- Viés de normalidade. É o estado psicológico da negação, a tendência de acreditar que as coisas continuarão a seguir o caminho de sempre. Pode prejudicar a eficácia das medidas de segurança, como lavar as mãos, respeitar as regras de distanciamento social e usar equipamentos de proteção, incluindo máscaras.
- Viés de otimismo. Esse viés cognitivo faz com que as pessoas acreditem que elas mesmas têm menor probabilidade de vivenciar um evento negativo. Como no viés de normalidade, o viés de otimismo pode atuar contra a conformidade com as regras para o "novo normal".
- Teorias da conspiração. Embora não seja um viés psicológico, a crença na conspiração é uma ameaça potencialmente poderosa e perigosa à segurança e à saúde no local de trabalho. O motivo pelo qual as pessoas acreditam em conspirações tem sido amplamente estudado e tem havido muitas teorias que propõem explicações. Para nossos propósitos, é importante entender que a falta de confiança gera vulnerabilidade à desinformação e à conspiração. É por isso que a comunicação honesta e aberta com os funcionários deve ser um componente crítico de qualquer estratégia de retorno ao local de trabalho.
É importante perceber que esses vieses e seus efeitos prejudiciais não se limitam à força de trabalho da organização. Também podem influenciar as ações de pessoas externas à força de trabalho que interajam com funcionários, incluindo clientes, fornecedores e membros da família.
É claro que os riscos associados à emergência do isolamento obrigatório ou voluntário são complexos, dinâmicos e sem precedentes no contexto moderno do local de trabalho. Tomar medidas para identificar, entender e mitigar esses riscos é fundamental para tornar essa transição o mais segura e indolor possível.
Como sempre, aguardo seus comentários.
Divulgação:
Richard F. Chambers, presidente e CEO do Global Institute of Internal Auditors, escreve artigos semanais para um blog da InternalAuditor.org sobre assuntos e tendências relevantes para a profissão de auditoria interna.